domingo, 25 de janeiro de 2015

A Joia do Pai

Sempre acreditei que existe um grande Pai universal nos assistindo, nos amparando, nos mantendo, guiando.

Fiz escolhas precipitadas e erradas, levei minha vida para a beira do precipício. E o Grande Pai me deu um motivo para não desistir da caminhada, que seria dura, escura, triste, sombria, perigosa, cruel e pesada. Uma dádiva para que nem a culpa, nem o arrependimento, nem frustrações ou desafios cotidianos desviassem minha atenção do meu novo principal objetivo. Mais que conseguir atravessar o grande despenhadeiro, agora também teria que levar uma joia nas mãos, sem deixa-la cair ou sofrer qualquer dano. A cada passo dado comemoro a vitória de não tê-la danificado, uma vez que manter-me em pé no caminho já não é tão fácil. Ao meu redor vejo inúmeras pessoas com a mesma missão. Muitas já jogaram sua joia fora, ou pelo excesso de cuidado consigo mesmas deixaram-nas cair, ou estão quebradinhas, ou sujas, ou foram deixadas pelo caminho. É muito difícil enfrentar o caminho, no pior trajeto escolhido, cada passo com suas batalhas, um inimigo muito forte me fazendo tropeçar, me instando a desistir, meu corpo e espírito cansados, querendo me jogar no precipício. Então me lembro da joia do Pai. Tanto tempo levando em minhas mãos que a considero minha. Amo essa joia. Cuido dela, vou polindo uma sujeirinha aqui e outra ali, às vezes fica mais exposta, às vezes consigo guardar; só não posso me dar ao luxo de fraquejar ou desistir da caminhada, já que tenho que entregar minha joia nas mãos do Pai. Ele me anima, me alimenta, me fortalece, derrota o inimigo por mim, é um Paizão.

Só que agora, minha joia quer fazer seu próprio caminho.

 Minha angustia e preocupação se tornaram palpáveis. Não sei como reagir, não sei o que dizer, recorro ao Pai e ele só me lembra sobre minha responsabilidade, recorro ao meu ser, e dou de cara com minhas escolhas. Confusa, perdida e fraca, vou seguindo, tentando segurar o quanto puder; prender forte entre minhas mãos a maior dádiva que eu tive o privilégio de carregar para o meu Pai. Certeza só tenho de que muito breve já não poderei segura-la. Talvez meu maior medo seja não ver em mim mesma motivo suficiente para continuar, se vier a fracassar na minha missão, que parece tão simples, mas que me mantem sempre a caminhar.








terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Infelizmente!

Será mesmo inevitável o encontro com o autoquestionamento diário? 
Confusa, às vezes me oponho ao próprio reflexo em desespero por respostas que não estão expostas, ao contrário, exigem minuciosa escavação do ser.
E indago: O que será pior? Estar desacompanhada em carreira solo, ou acompanhada em desarmonia?Descobrir um segredo revolucionário ou ver-se isca da conspiração? Dedo na ferida ou flecha no tendão? Preocupar-se com o cisco alheio e desculpar as próprias traves ou engolir elefantes e engasgar-se com mosquitos? Iludir-se e frustrar-se, mas ter emoções ou manter-se indiferente e imune, mas tornar-se medíocre e frio? Errar milhões de vezes e acreditar que a insistência pode fazer uma gota d'água furar a rocha ou acomodar-se e conformar-se com a derrota diante do aparente impossível? 
Muito se ouve o clichê de fazer limonada com os 'limões' que a vida proporciona. Criatividade? Instinto de sobrevivência ou apenas lógica redundante e repetitiva? Estranho seria fazer limonada com pimenta, fogo, pólvora, lágrimas, sangue.

Mas a vida não me deu limões. Fez-me óleo na água, pra me ensinar que por amor, tenho que mexer muito e ferver tudo em volta pra obter alguma mistura com o único propósito de servir outros ingredientes na grande culinária da vida.




Distando-me da conclusão final que aparentemente andou mais um milhão de milhas, detenho-me na máxima do dia, que zomba da minha aflição ao declarar: Você não é invisível. É imperceptível, mas se vê. E antes de romper em inexplicáveis e irritantes lágrimas, frente a mim mesma respondo-lhe: Infelizmente!









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