quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

De saco cheio...

Minha cota de paciência está completa.
Será a tal da meia idade?
Que seja! Mas chega de enrolação, chega de blá blá blá...
Meu ventre já está cheio de cadáveres dos sapos engolidos a por tantos anos.
Gente que sentiu prazeres quase sexuais uma vida inteira me vendo baixar a cabeça, respirar fundo, engolir o quase iningolível.
Tudo em nome de paz, educação, manter boas relações, manter o emprego, o namoro, os dentes.....
Mas não me importa nada disso mais. Nem mesmo os dentes. Prefiro uma dentadura e alma lavada, do que dentes - que inclusive podem cair sozinhos -  e outro sapo atravessando minha paz de espírito garganta a dentro.
Por isso, aprendi me amar, me valorizar, me admirar. Cada mazela imposta a mim pelas circunstâncias cruéis de uma vida que não gosta muito de mim, me fez aumentar a estima própria, somatizar o bem querer a mim mesma, desejar fazer por/para mim tudo o que me foi negado ano após ano vividos, como fosse eu uma poltrona velha; de casa em casa, a princípio em destaque, mas logo, apenas para prestar favores e servir de depósito, ou de objetos inúteis, ou de roupas bagunçadas, ou de bundas sujas, até que nem pra isso mais prestasse.
Agora quero o que decidi que mereço.
Mereço o benefício da liberdade, de estar só se quiser e quando quiser, sem maiores dramas nem explicações. Se viver no coletivo me fizesse bem, não quereria eu o isolamento.
Mereço o respeito ao serviço prestado, seja uma cama arrumada, um lanche, um banquete black tie, um resgate salva-vidas, o que for. Não quero elogios, exijo respeito. Construí minha vida na excelência da qualidade. Isso gasta tempo, mão de obra, dinheiro, e se não gastar nada, leva de mim a minha dedicação e esmero. Sou perfeccionista, não mexa no que eu fiz. Se eu errar, eu conserto. Se não souber, eu pergunto. Se eu falhar, me desculpo. Mas não se intrometa no meu serviço, seja ele qual for.
Mereço meu espaço. Querer guardar tudo alinhado, ver o chão brilhando, louças limpas, roupas penduradas na minha sequência. Enfeites neutros, decorar o que é


meu.
Mereço comer o que tiver vontade sem ter que dar explicações ou ver um faniquito porque vai ser agridoce ou vegano, ou caro.
Mereço a companhia de alguém pra uma TV, que queira ver TV ou que me deixe só pra eu ver o que quiser.
Mereço fazer burradas e delas me arrepender sem que isso vire uma cena do Titanic afundando e eu no papel do iceberg.
Mereço decidir sobre ser magra, malhada, gordinha ou tudo isso, afinal, eu gosto de comer. Cuido da saúde, mas como bastante, portanto, não me encha o saco por causa do tamanho do meu prato, a menos que você pague por ele sozinho.
Mereço estar perto de quem me agrada, me enche os olhos, o coração, os ouvidos, a mente e todos os outros sentidos! Duvido encontar, mas que mereço, isso sim!
Mereço escolher gato e papagaio antes de cachorro.
Mereço usar o tempo de insônia para atualizar roupas a lavar, vidros a limpar, geladeira a descongelar, café da manhã a preparar... Desde que aproveite o tempo sem sono pra fazer algo realmente útil, afinal, time is money.
Mereço envelhecer à minha maneira, meu estilo de roupa, minhas músicas antigas, meu cabelo grisalheando naturalmente, sem pressa e marcando presença, fazendo minhas palavras cruzadas Coquetel por diversão, nostalgia e prevenção de Alzheimer.
Mereço não precisar esconder nada em lugar algum.
Mereço acordar com vontade de ouvir música em volume alto e luz acesa.
Talvez encontre quem diga que é pedir demais à vida. Discordo. Lutei por isso, sonhei com isso, busquei isso, plantei tudo isso. Portanto, mereço.
Até porque, pra qualquer contrário aos descritos, já estou de saco cheio!

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