quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Receita da vovó

 Se o amor andar junto com a coerência, é possível que se obtenha longas séries de agradáveis momentos.

Se a coerência abraçar a lucidez e não desgrudar mais, talvez  seus bons momentos diminuam a intensidade, já que a coerência e a lucidez formam uma dupla mais objetiva e menos romântica, preferível aos olhos do 'homo non sapiens' (vulgo 'geração nutella ou geração mimimi'), que prefere o balet afetivo do Mr. Sigmund a sujar um pouco os pés na lama que estão acumulando com tanta superficialidade e comportamentos em massa, as ditas modinhas. 

Sinto em lhes comunicar o prognostico redundante: muitos buscando morte à sua maneira, como Shakespeare - herói da geração - por preguiça de  enfrentar seus respectivos pântanos, formados por lágrimas de birra por qualquer eletrônico que possa tirá-los da realidade; comportamento nomeado de adicção intensa, progressiva, incurável e fatal.

Quem nos dera não tivéssemos querido dar a eles o que não tivemos, pois foi exatamente o que nos forjou com metal e não de biscuit atóxico.

Lactose, glúten, diet, light, eram palavras escassas (confesso desconfiar de uma teoria da conspiração entre a industria alimentícia e farmacêutica), as frescurites agora tem afamados nomes de intolerância à/ ou hipersensibilidade aos componentes da fórmula. 

Saudade de jogar queimada descalça na rua de barro com a molecada que só ia chegando e entrando na brincadeira; colocar fogo no bombril a noite e guerrinhas de goiabinhas verdes ou mamonas.

Chilique antigamente era resolvido na cintada, chinelada ou varada mesmo. E sim, apanhamos muito, sem sermos espancados, mas o essencial, que é de fato invisível aos olhos, era nossa recompensa: nos tornou mais afetivos. E essa piedade pelos nossos bebês fizeram com que eles envelhecessem mais cedo que nós.

Afinal, confinamento voluntário, sedentarismo, alimentação, se existir - me négo a chamar fastfood de alimento - ( tudo transgênico á base de soja e glutamato monossódico), dependentes do dinheiro alheio porque não aprenderam sequer a trabalhar, a meu ver, chama-se prisão domiciliar voluntária. E a gente chamava tudo isso de caduquice e era de uso exclusivos dos idosos.

Erramos em trazer o peixe que eles nos viram pescar mas não puseram suas mãozinhas na lida. Agora eles exigem os pescados prontos para o deguste e temos a tarefa de não propagar uma próxima geração assim ou pior ainda. Mas, a pergunta perdida no vento é: como se faz gente de verdade? 

Perdemos a receita da vovó.

O leite já derramou e nos cabe apenas tentar equivaler o que restou do indivíduo humano.

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